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A direção da emissora estaria incentivando os autores contratados a apresentar sinopses com historias mais criativas, dinâmicas e diferentes das atuais obras produzidas.
como resultado, Newton Moreno( autor de “as centenárias” e “maria do caritó”) trabalha junto à Denise Saraceni em uma nova série com tema “sobrenatural”.
caso a série seja aprovada pela emissora a série terá 10 episódios e deverá estrear em 2014. Vale lembrar que eles ainda estão desenvolvendo o texto. a noticia é de Patricia Kogut (o globo).
A primeira temporada do Clube do Medo se encerrou no último sábado (23), mas, para você que está com saudades. João Paulo Alves e Jhonnatan Carneiro, respectivamente autor e diretor da coleção, entraram em consenso e foi resolvido que será lançada uma versão digital com os quatro contos da coleção na íntegra. Faça o download logo abaixo:
Realmente eu não sabia em como morreria, mas morrer sentado na fagulha velha parecia uma forma irónica de partir.
Das cinzas para cinzas, do pó para o pó.
Duas vezes ao dia, todas as semanas, o guarda Calie vem nos punir com várias chicotadas, pensaram que estamos em tempos modernos? Pois é, estamos, mas mesmo assim, às vezes, ganhamos algumas chicotadas por apenas fazer nada. Mas as chicotadas ficam mais frequentes quando o dia da execução do condenado se aproxima. Ou como eu diria, O dia do juízo Final.
Devo admitir que contar essa história para vocês parece ser um bom passatempo, às vezes até me esqueço de que a qualquer momento posso morrer, não pela Fagulha Velha, mas de fome. Comemos migalhas todos os dias, ou praticamente restos.
Ainda fico pensando, em como os outros presos de Molfon estão agora, como estão lidando com as coisas, sem a mim para arranjar, coitados. Meu Deus, quem me dera se não fosse eu!
A ferida em minhas costas estava dando escaras, e muito pus, se não morresse na cadeira Elétrica, morreria com as minhas feridas. Certo dia, vi um bicho saindo dela. Mas deixe isso pra lá! Vocês não devem saber de tudo o que acontece comigo. Certo dia, Barney, continuava a dizer que era inocente e, sinceramente, já estava começando a acreditar nele. Mas, é claro que eu não tinha certeza se ele realmente se ele era. Até que um dia, no corredor da morte, a verdade veio com um guarda.
O nome do guarda era Gentil, com um maço de cigarro ele me contava as peripécias que acontecia em Molfon. E nesse dia, ele me contou tudo sobre um novo prisioneiro que chegou. Fiquei impressionado, e tive a certeza que Andrew Barney, era inocente.
Tudo aconteceu assim…
FLASH!
INTRO/CASA DE BARNEY/QUARTO/NOITE
Barney caminhava vagarosamente pela sala de sua casa, iluminada pelos abajures em cada canto da casa. Em sua mão esquerda segurava uma enorme garrafa de vodka, e na outra mão um revolver RT 44 calibre restrito com cano comprido e 242mm, 6 tiros e mira ajustável e pesava em torno de 1315g.
Em off o som dos gemidos da esposa de Barney ecoava. Barney se contraiu, olhou para um portarretrato que estava em cima de uma escrivaninha velha e decaída. No quadro um casal formado por uma mulher sorridente e com longos cabelos louros, ao lado Barney também sorridente.
Barney, fitou profundamente o porta-retrato, uma lágrima desceu dos olhos e escorreu até o terno, o porta retrato caiu no tapete estufado. Barney caminhou mais alguns metros, chegou até a porta do quarto e lá viu sua amada transando com um jovem rapaz com aproximadamente beirando a casa dos 19 anos. Desviou o seu olhar para a RT 44, pegou na maçaneta e a girou… Depois a largou, não teve coragem de prosseguir, saiu correndo deixando a arma cair sobre o tapete aveludado.
Após sua saída, um outro homem, que observava a sequência deste o começo, no entanto estava escondido atrás da cortina da sala, pegou a arma que Barney deixou cair no tapete com um pano, para não deixar as suas digitais nela..
Ainda no jardim, Barney ouviu tiros. Se assustou, Quem teria disparado os tiros?, no entanto quando ele voltou para a mansão se deparou com os corpos de sua mulher e amante, e sua arma estava caída no mesmo lugar. Barney com os olhos lacrimejados, percebeu que aquele era o princípio do fim.
Em off, o som de sirenes ecoava a quarteirões dali.
E foi assim, como tudo aconteceu.
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Rapidamente fui contar para Barney, é claro que ele ficou paranóico, tinha a chance de sair dali. Queria por que queria falar com o diretor de Molfon, mas não conseguiu. Sua condenação já fora declarada, não tinha mais nada a fazer. E seria executado daqui a 4 dias.
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2 dias para a execução.
Andrew passou seus últimos dias calado, isolado, sequer trocava uma palavra comigo. Mas a noticia que Andrew era inocente começou a se espalhar por toda a prisão, e os presos exclamavam: Deus do céu! Barney é mesmo inocente!
E creio que sim, que ele era o único inocente de todos nós aqui.
Mas nesse mesmo dia, um guarda veio até a minha cela, e me conduziu a sala do diretor.
-Ora, ora! – Pronunciou Betaldiner, severo como de praxe.
E continuei ali, em pé, e sem olhar diretamente em seus olhos cor de fogo.
-Sente-se! Ande! Sente-se!
E assim eu fiz.
-Vejo que fez uma amizade nesse meio tempo, não foi?
-Sim – falei, inseguro.
-Olha, fiquei sabendo que seu amigo descobriu a verdade, certo?
-Acho que sim.
-Fale direito comigo, inseto!
-Sim senhor, ele descobriu.
-Pois bem, hoje você será liberado do corredor da morte, não só dele, como de Molfon. Será inocentado de todos os crimes, contanto que não fale mais nada a Andrew.
-Porque isso, senhor?
-Simples, certo dia, fui até o banco, do qual Andrew Barney, era gerente, minha vida estava a míngua, pedi um empréstimo, mas o desgraçado não me concedeu, me ignorou, me tratou como se eu fosse um verme. Agora ele deve pagar, o que ele fez comigo.
No entanto, fiquei a deriva, não falei nada. Com uma raiva tremenda Betaldiner jogou o copo de água em um quadro, que estava escrito.
“A JUSTIÇA CHEGA PARA TODOS”
Quando voltei para minha cela, peguei algumas coisas minhas, em cima de minha cama, achei um envelope, era um encomenda que tinha pedido a algum tempo, peguei o envelope, e o abri.
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Peguei minha bagagem, mas antes fui até a cela de Andrew me despedir. O olhei nos olhos, e ele retribuiu o olhar. Levei minha mão até a sua, e nos cumprimentamos.
-Te espero ver algum dia, velho amigo.
E então ele percebeu que eu tinha deixado algo em sua mão.
Ao longe senti o cheiro de liberdade. Os portões se abriram.
Eu estava livre! Livre!
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15 minutos para a execução.
Sentando em sua cama, Andrew observava na palma de sua mão um objecto.
-Pronto, Andrew? – Perguntou Calie educado.
Ele disse que sim com a cabeça.
E em seguida, Calie começou a raspar a cabeça de Andrew, e naquele súbito momento começou a chorar, calado, em silêncio.
Depois, ele vestiu um uniforme branco. E então o prenderam e o começaram a levá-lo para o corredor da morte.
-Posso tomar água antes? – Pediu Andrew.
Calie o permitiu. Afinal só era um copo de água.
E então ele tomou.
Quando chegou a ver a cadeira elétrica, seu corpo estremeceu. Em seguida o amararam. Molharam uma esponja e colocou em sua cabeça. E sem seguida um capuz cobrindo-lhe o rosto.
Todos os condenados, e o director de Molfon foi presencias a execução.
E, em seguida, Calie prosseguiu dizendo.
– Andrew Barney, a eletricidade passara pelo seu corpo, até que você morra, de acordo com a lei estadual. Que assim seja.
Barney, respirou fundo.
-Antes, quero dizer algo para o Diretor!
E todos na sala se contrairam, inclusive o director Betaldiner.
-Não tive culpa do ocorrido, eu era apenas o gerente, estava cumprindo ordens. Mesmo assim, me desculpa.
-Já chega! Ligar a 2! – Ordenou Betaldiner.
E assim se fez. Andrew gemeu, não demorou muito. E a execução já estava feita.
Andrew estava morto!
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Alguns dos guardas pegaram o corpo de Andrew, e colocou em uma maca, e o levaram para um local escuro. O guarda então abriu uma espécie de alçapão, e jogou o corpo lá. O corpo de Barney se colidiu contra outros corpos. Alguns minutos ali. A mão de Baney corta o saco preto que o prendia.
Estava vivo! Andrew estava vivo!
E então ele começou a correr, correr, correr. Parecia que sabia para onde iria. Como poderia sobreviver á 2000 vts?
2 DIAS DEPOIS.
Com uma roupa elegante, Barney foi ate uma delegacia e explicou as milícias e como Molfon tratava os condenados e aonde eles jogavam os corpos.
Os policiais no entanto, não mediram esforços, e foram prender Betaldiner. Mas, eu ouvi dizer que quando os policiais chegaram lá Betaldiner tinha se suicidado.
Agora eu penso, o que deve ter passado na mente dele, além da bala? Pois é. Essa era a redenção de Molfon.
E outra, disseram que Calie chorou feito uma mulherzinha quando o prenderam. Ninguém, nunca mais ficou sabendo de onde estava Barney em nem de mim.
Alguns tempos depois Andrew e eu nos encontramos novamente. E nosso encontro foi em um lugar lindo do qual todos nós ex penitenciários, por assim dizer, desejamos.
Estávamos na sombra do braço do Cristo Redentor, Rio de Janeiro.
Nos abraçamos, e mostrei a ele a família que tinha no Rio. E depois fomos conversar em como tudo realmente aconteceu.
-Parece que tudo deu certo – confirmei.
-É, deu certo sim.
-E como foi? Conte-me
FLASH!
MOLFON/CORREDOR DA MORTE/TARDE
O fato que vem a seguir é narrador por Andrew.
Blue pegou um envelope e o abriu, dentro dele, continha uma cápsula. Em seguida foi até a minha cela, e me cumprimentou, deixando comigo essa cápsula e um pequeno papel escrito.
“Não sei se isso vai dar certo, mas não custa nada tentar. Essa cápsula que esta em sua mão é feito com aquela borracha que você me pediu, lembra? Pois bem, tome ela, quando estiver na hora da sua execução, ela fará com que a eletricidade diminua em contato com o seu corpo. Seu coração vai parar de bater, mas vai voltar em 15 minutos, vão te jogar junto com outros corpos em uma floresta, quando acordar corra, o mais rápido, há uma roupa para você na 89ª árvore a sua esquerda, vista-a e conte tudo o que há de mais perverso em Molfon. Se tudo der certo até aí, me encontre, estou no Rio de Janeiro, nos braços do cristo.
Espero que esteja bem meu amigo.
BLUE!
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-Perfeito! – Falei.
-E agora, aonde vamos?
Pensei e depois disse.
-Para qualquer lugar, que não seja no inferno.
E o sol de repente, pegou tons carmesins, dando origem a uma aurora boreal.
Quantas vezes já tive pesadelos terríveis com a Fagulha Velha, aquela traiçoeira e perversa cadeira elétrica. Vendo aqueles condenados fritando. Uma coisa eu sei, a Fagulha Velha era cruel, imaginem, mais de 2.000 volts passando pelo seu corpo? Teria chance de sobreviver? Não, creio que não, ao menos se existisse algo, mas não, não mesmo!
O corredor da morte! A cadeira Elétrica, e um condenado inocente.
Com esses pensamentos, tive um pesadelo.
Hááááá – Gritos agonizantes.
Socorro!
Estou queimando!
O condenado se contorcia tentando se soltar, uma esponja mochada com uma solução especial escorria pela testa.
-Queima, Queima, Queima…
Sussurrava o terrível guarda Calie.
-Desligar a 2!
E um outro guarda obedeceu a ordem girando uma manivela, que desligou a energia que ligava a cadeira Elétrica. Três dos guardas retiraram os cintos que prendiam o executado, e por último retirou o capuz negro.
Deus do Céu!
E o morto queimado que estava sentado naquela cadeira, era eu.
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Despertei assustado, aquelas vozes começava a me perturbar, sussurros e grunhidos estanhos, e aquele pesadelo: eu, na cadeira Elétrica, queimando. Eu poderia ignorar as chances de morrer, mas uma hora ou outra isso haveria de ocorrer, e da forma mais horrenda possível. Senti na boca o gosto de queimado, mas só era um pesadelo.
Um pesadelo que iria se concretizar.
Andrew Barney veio falar comigo pela primeira vez, antes é claro de irmos para o corredor da morte, em meados do verão, praticamente 3 dias depois de sua estada em Molfon. Percebi por sua aparência, que era na outra vida um homem poderoso, mas nem o dinheiro compraria a sua liberdade. Ele chegou ao meu lado, e disse com a sua voz meio rouca e áspera.
-Fiquei sabendo que você é o cara que consegue as coisas, não é?
Olhei para ele, dos pés á cabeça, e depois o olhei nos olhos.
-Tudo que estiver ao meu alcance.
Ele deu um sorriso em falso, mostrando os dentes brilhantes de outrora.
-Queria que você conseguisse para mim, uma borracha.
-Borracha? – Perguntei achando o pedido estranho.
-Sim – ele confirmou.
-O que vai fazer com uma borracha em Molfon? – Ele me olhou, e continuei – apagar a burrada que você fez?
-Pensei que era só pedir, te pagar, e você arrumar o pedido, não se intrometer com o que iriamos fazer – Ele disse em um tom de ironia, mas suave.
-Olha, geralmente costuma fazer isso, mas, quando algo estranhamente é pedido, creio que eu tenha que saber para o que isso venha a servir, entende?
-Sim… Claro… – respirou fundo e prosseguiu – como disse vou tentar apagar a burrada que eu “Fiz”
As últimas frases soaram com o ar de isolamento, tristeza. Franzi o censo, ele ergueu as sobrancelhas.
-Tudo bem, isso lhe custara 8 maços de cigarro, e mais 100 dólares, pra virar cliente.
Ele deu novamente um sorriso de canto.
-Mas 8?
-A mercadoria passa pela alfandiga.
-Só ser for alfandiga mesmo, mas aceito os seus acordos – ele levou a mão para me cumprimentar – Blue, engraçado nome.
E quando se virou para ir embora, eu o chamei sua atenção.
-Afinal, porque fez aquilo?
Porque matou a sua esposa?
-Não ouviu nos noticiários? – Ouve uma pausa – Sou inocente.
Sim, claro, todos nós somos inocentes, e naquele mesmo instante me simpatizei com Andrew, o condenado a fagulha velha.
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15 DIAS PARA A EXECUÇÃO.
Demorei certo tempo para conseguir a mercadoria insana que Andrew me pedira tempos atrás. Agora oficialmente estamos no corredor da morte, uma vez lá, nunca mais saímos. Mas era lindo, exatamente era lindo o chão, liso com o piso de linóleo e brilhava com as poucas luzes que ainda reflectia no assoalho. Era longo, havia selas de todos os lados, no máximo 20, de 10 de cada lado. No final do corredor um quarto – provavelmente – a sala de execução, a mais temida.
A minha sela ficava ao lado de Andrew, assim, por sorte poderíamos conversar. Sim conversar. Naquele mesmo dia, descobri pelo cano do esgoto da minha privada que Andrew poderia escutar. Agora pensem, falar com outro cara pelo ralo de onde passa a minha merda e de outros condenados. Isso era realmente nojento e repulsivo, mas era a penitenciária de Molfon.
Com a boca e o nariz na passagem de merda, chamei Andrew.
E por ai começamos a conversar, jogávamos dama, conversávamos sobre Angelina Jolie nua, quadrinhos, enfim, tínhamos algo para fazer até o dia da execução de ambas as partes.
Lembro-me, que amanhã, será o dia da execução de um dos condenados, e como é de praxe todos nos iriamos assistir.
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Eis que chega o dia de um dos condenados dizer adeus a esse mundo hipócrita. Ou pelo menos é assim que achávamos que ele era.
Naquela manhã, os guardas fizeram todos os procedimentos para a execução, rasparam a cabeça de John Vight, que foi acusado por estuprar e matar duas meninas dentre 11 anos de idade.
Faltava apenas 15 minutos para a execução, que estava programada para ás 12:00 em ponto. Prenderam John na cadeira, e no final o guarda se aproximou na frente de John e disse as seguintes palavras de sempre:
John Vight, á eletricidade passara pelo seu corpo até que você morra, de acordo com a lei estadual. Quais as suas últimas palavras?
-Estou indo para o inferno BB!
E após isso, os guardas não hesitaram, era meio-dia em ponto.
-Ligar á 2!
E todos os presos assistiram a morte horrenda de John Vight. O cheiro de queimado, aquele cheiro horrível.
Aquele ranger de dentes.
Depois de toda peleja, retiram o corpo, e o jogaram em uma maca e o levaram para um outro corredor, escuro e tenebroso.
A pergunta que não calava era, Quantas pessoas morreram ali? Quantas almas condenadas lamentaram? Quantos inocentes queimaram ali?
E em breve seria a vez de Andrew Barney.
E naquela noite tive um pesadelo.
9
FLASH!
A penitenciária estava escura, nenhuma luz ecoava, nenhum guarda, nada só a escuridão.
Espere! Havia uma luz, uma pequena centelha, que vinha do lado de dentro de uma porta blindada. Molfon era mais assustadora do lado de fora, não hesitei, e fui caminhado pelo gramado, até chegar nessa porta, da qual poderiam salvar de qualquer forma da escuridão.
Calada, fria e sombria.
Meus passos começavam a ficar mais largos, tentando sair logo daquele lugar. Quando me aproximei até a porta, ela abriu sem ao menos se toca-la, respirei fundo, agora estava em minhas mãos.
O lado de fora de Molfon ou O lado de dentro?
Fiz a minha escolha, entrei. E em seguida levei um susto, a porta atrás de mim, se fechou abruptamente, fazendo o som da batida sair em forma de ecos. Depois do susto me virei novamente para o corredor, mas as luzes que iluminava o corredor foram se apagando, uma seguida da outra, momentaneamente.
Como trilha, só o som da minha respiração ofegante. No breu.
E nesse momento, fui concebido com um vento subitamente apavorante acompanhado com um frio do atlântico. Mas durou poucos segundos, a ventania sessou, levando consigo o terrível frio. Ainda no escuro, optei por continuar a caminhar, não sabia para onde ir, então levei minhas mãos, até a parede, para ter uma noção de onde ir, deslisando suavemente minhas mãos pela parede, percebi que a densidade da parede mudou até certo ponto, senti como se tocasse em algo gelado, apalpei mais ainda.
Peixe. Gelo. As Geleiras do polo norte. Defunto!
Oh Deus! Defunto!
Sim, acabara de tocar um defunto. Retirei minhas mãos do ser. Tentei -me acalmar, precisava sair dali, encarei novamente por deslisar minhas mãos pela parede, mas novamente fui surpreendido por vários defuntos, um atrás do outro, engoli em seco, franzi o cenho. Mas continuei. Então, senti uma fechadura, acabara de chegar em outra porta. Senti a maçaneta, a toquei, e a girei.
Luz!
A luz, voltara. Demorei certo tempo, para que meus olhos se acostumasse com o aspecto, mas ainda com a retina embaçada, vi ao meu arredor corpos ensanguentados.
Pavor! O pior pavor!
Necrotério. Provavelmente eu deveria estar em um necrotério. Estava frio, muito. Os corpos estavam espalhados por todos os lados. E no meio dessa multidão de mortos, lá estava a cadeira Elétrica, e sobre ela assentado um outro corpo, com um capuz negro envolta de sua cabeça. Me aproximei, um silêncio tomou conta do local.
Frio. Pavor. Tensão. Silencio.
Toquei na mão fria do morto. A mão se mexeu, levei as minhas mãos para retirar o capuz da cabeça do homem, do qual ainda o sangue corria. Então.
Fechei os olhos de tanto medo. E antes de retirar o capuz.
A luz novamente se apagou. O frio cessou.
10
Acordei assustado, me debatendo sobre a cama. Demorei certo tempo para voltar a consciência. Quando voltei fui logo contar o mais terrível pesadelo que tive em tempos. Contei a ele tudo, e é claro que ele ficou com um leve receio, afinal esse era um pesadelo do qual ninguém queria ter.
5 dias para a execução.
PRÓXIMA SEMANA NO CLUBE DO MEDO:
– Andrew Barney, a eletricidade passara pelo seu corpo, até que você morra, de acordo com a lei estadual. Que assim seja.
Barney, respirou fundo.
-Antes, quero dizer algo para o Diretor!
E todos na sala se contraiu, inclusive o director Betaldiner.
-Não tive culpa do ocorrido, eu era apenas o gerente, estava cumprindo ordens. Mesmo assim, me desculpa.
Barney caminhanhava vagarosamente pela sala de sua casa, internamente iluminada pelos abajures dispostos a cada canto. Em sua mão esquerda segurava uma enorme garrafa de vodka, e, na direita, um revolver RT 44, calibre restrito, com cano comprido e 242mm, 6 tiros e mira ajustável, pesando em torno de 1.315g.
Em off o som dos gemidos da esposa de Barney ecoava. Barney se contraiu, olhou para um porta retrato que estava em cima de uma escrivaninha velha e decaída. No quadro um casal, uma mulher sorridente e com longos cabelos louros, ao lado de um Barney também sorridente.
Barney, fitou profundamente o porta-retrato, uma lágrima desceu dos olhos e escorreu até o terno, o porta retrato caiu no tapete estufado. Ele caminhou mais alguns metros, chegou até a porta do quarto e, lá, viu sua amada transando com um jovem rapaz que beirava a casa dos 19 anos. Desviou o seu olhar para a RT 44, tocou a maçaneta e a girou (…).
1
Em toda penitenciária de segurança máxima há sempre um cara como eu. Aquele que pode arranjar maços de cigarros, alguns livros capa dura, fotos de mulheres nuas, e até mesmo acesso a internet, se assim você quiser. Mas tudo o que estiver ao alcance.
Mas isso começou em 1935, quando a prisão de Molfon ainda estava lá, em Carolina do Sul, e é claro a cadeira elétrica também estava lá.
Lembro da primeira vez em que entrei em Molfon, fui acusado de estupro qualificado – Deus do céu, existe isso? – pois bem, se existe ou não, fui julgado de qualquer forma. Entretanto, nesse meio tempo vi coisas que até Deus duvida. Coisas que, se eu não contar para alguém, creio que eles não me deixarao em paz.
Mas, afinal, Molfon nunca esteve em paz. Muito menos a Cadeira Elétrica.
O corredor da morte é o nome mais tenebroso na penitenciária. Os presos costumavam brincar, e fazer piadas iriônicas sobre ela, eles falavam em como os testículos dos presos iriam virar ovos fritos, e davam nome a cadeira Elétrica, chamavam-na de Fagulha Velha. Quero deixar claro que essa não é uma estória da qual vocês tem que sentir dó, pelo contrário quero que sintam medo. Porque eu senti, aquelas coisas me perturbando, aqueles gritos de tormento. Por isso vou ter que contar, vou ter que desabafar.
E esse dia chegou.
O corredor da Morte, aguarda a sua visita.
Se vocês não se importarem quero falar para vocês, mas sobre o Corredor da Morte. Como já disse estou aqui há muito tempo e vi coisas terríveis, em 1935, a condenação pela Elétrica, ainda era legal nos Estados Unidos. Todos temiam, uma vez lá, nunca, jamais, nunquinha, voltariam. Molfon era conhecida por ser a prisão mais temida do Estado, os presos faziam questão de morrer ao invés de ir pra lá. Foram tempos difíceis.
Hoje tenho 54 anos, do muito que já vivi, tenho direito absoluto na prisão, mas não foram bem assim no começo. Quando entrei em Molfon, eu ficava pensando em quantos estrupadores, assassinos, malfeitores, e inocentes já sentaram na Fagulha Velha. E aqueles gritos? Aquelas almas? Para onde iriam? Estariam vagueado por lá? Deus, não quero nem pensar.
A cadeira Elétrica é talvez algo que nós tomamos como concedido para hoje em dia como o mais rápido caminho e a mais humana forma de executar um ser humano. Nos primeiros dias, no entanto, os defensores do uso da eletricidade como um meio de morte, teve que provar que era realmente a maneira mais proficiente de execução. Mas é claro eu isso só foi nos primeiros anos. Apartir de 1976, quando um homem chamado Kammelet não morreu, como era esperado. Kammelet ficou 17 segundos ainda vivo, e vendo a pele queimada saindo de seu corpo, no ar o cheiro de carne queimada, fétida. Depois desse caso, os governantes começaram a pensar menos na cadeira Elétrica, e ficando mesmo com o enforcamento. Mas isso foi provisório, depois que não teve mais incidentes, a Fagulha Velha voltou a dar o ar de sua graça.
Bem, aonde quero chegar é que não sou nenhum telepata, ou um John Constantine, muito menos George A. Romero. Contudo o que quero explicar a vocês é que, como estou a tantos anos aqui, fiz amizades com quase todos os detentos no corredor da morte. Em 1930 conheci um cara chamado Andrew Barney, o cara ficava na defensiva, quase não falava nada, entendem?
Barney foi acusado de matar a esposa e o amante, os dois foram encontrados transando loucamente, e Barney viu tudo, mas tenhamos que admitir, a vagabunda da esposa de Barney era linda.
Andrew foi condenado à prisão perpétua pelas duas mortes. E ele ainda insiste em dizer que é inocente. Acho que ele vai se dar bem aqui em Molfon, porque todos nós somos inocentes, não é mesmo?
Ops! Esqueci de me apresentar! Que falha minha, me chamo Green, exatamente, Green conhecido por só receber verde nas folhas de libertação de prisioneiro, isso é para saber se eu estou apto a ir para o outro mundo, o mundo da liberdade.
Agora já que vocês sabem do corredor da morte, da cadeira Elétrica, de Andrew Barney e de mim, acho que a hora da gente ir contar esta estória chegou, então vamos, entre até a minha sela, é logo ali no final do corredor.
2
Molfon já teve vários diretores, em 1878 o diretor Stefan Woo, foi o causador da maior rebelião, deixando os presos sem ar, e sem água tudo isso porque um idiota comeu um bombom que ele havia deixando em cima do balcão, mas o interessante nisso, sabe o que é? É que o tal idiota que comeu o bombom, morreu dois minutos depois, aquilo era tudo um plano de Stefan.
A ascensão de Stefan ocorreu de 1878 á 1890, dizem que ele morreu de causas naturais, mas todos os presos sabiam que não, não mesmo.
Depois de Stefan veio outros, e outros, e chegamos ao horrendo Betaldiner Snotfield, sim é um nome difícil de se pronunciar, e também difícil de se compreender. O desgraçado foi o responsável por mandar Barney para cá, creio eu que Snotfield tem algo para ele. Mas isso a gente vai saber depois.
As luzes de Molfon, se apagaram momentaneamente, hora de dormir. Quando se esta preso, a noite demora a passar, não só a noite como o tempo. Um minuto no inferno é o equivalente a um ano em Molfon. E, naquele dia, os presos começaram a sacanear com os novatos.
-Ei gorducho! Que traseiro enorme você tem! Sabia que, aqui em Molfon têm as Bichas que gostam muito de gordinhos…
E todos os presos do pavilhão começaram a rir.
-Amanhã a gente vai te apresentar elas viu?
E o tal gordo não aguentou a pressão e começou a gritar.
-Aqui! Me tirem daqui! Esse não é o meu lugar! Eu sou inocente!
Na verdade, todos nós somos inocentes, lembra?
– Mas que porra é essa? – Era a voz do guarda mais temível de Molfon, Calie.
–Nada chefe! – Esbravejou um dos presos.
–Me tire daqui! Eu quero a minha mãe!
O Gorducho deveria calar a merda da sua boca.
– Cala essa merda de boca, ou eu serei obrigado a enfiar o meu cassetete nesse seu traseiro gordo!
Mas o cara não calou, coitado. Calie tirou as chaves do bolso abriu a cela e puxou o gordo pela gola do uniforme penitenciário, em seguida o jogou no chão e começou a dar-lhes pontapés, socos, Deus do céu! Calie fez o que disse que iria fazer. Pegou o cassetete e enfiou naquele lugar, bem no traseiro do pobre coitado.
Aonde o sol não bate.
Lembro-me que os presos não aguentaram ver aquela cena de estupro, depois do trabalho feito os guardas deixaram o corpo lá, espatifado, frio, morto.
Mas o que me surpreendeu foi que, Andrew Barney, não disse nada, não deu nenhum pio.
3
No dia seguinte, depois daquela cena horrenda, perguntei para um dos enfermeiros de plantão na noite passada se ele tinha notícias do gordo.
– O médico já tinha ido embora, coitado. Quando o doutor chegou hoje cedo, já não se podia fazer mais nada.
Contei para ele quem eram os responsáveis de deixar o tal gordo naquele estado. Barney estava do nosso lado no refeitório, e soube também da notícia.
-Qual era o nome dele? – Perguntou Barney, na defensiva.
-E o que isso importa? O cara já morreu! – esbravejou um sujeito ao meu lado.
-O cara morreu sem um nome – disse Barney.
E realmente, o cara gordo morreu sem um nome. Aquele assunto logo, logo foi esquecido, dando passagem para outros mais importantes como, a fuga de um prisioneiro pelo esgoto.
4
Naquele dia mais tarde, Calie recolheu todos os presos condenados a Cadeira Elétrica para o corredor da morte. Os primeiros dias te deixam livre – por assim dizer – contudo para mostrar a gente o lado bom e o ruim de que poderíamos ter em Molfon. Os guardas enfim recolheram em torno de 15 condenados, e dois deles eramos eu, e Andrew Barney.
Em 1929, uma verdadeira bomba explode nas finanças de Wall Stret, os empresários estão desesperados para vender suas ações, mesmo que seja a preços baixos, o American Way of Life definitivamente acabou e a realidade está se mostrando nua e crua. Apenas cinco meses após a crise se alastrar pelos EUA e pelo mundo, Frederico recebe a notificação de que a empresa em que trabalhava faliu e agora está à beira da miséria. Porém seu maior medo não é o que está por vir e sim à reação de sua esposa. Ele a amava mais que tudo, porém o que ela queria mesmo era ser uma social light.
De repente, estava parado em frente a sua casa de cercado branco. Não queria entrar e encarar aquela fera. Angelina tinha um rosto ávido, mas seu coração era murcho. Gelado. Ela não tinha escrúpulos.
– Por que está de volta tão cedo? – Perguntou em tom irritado, nada daquela curiosidade e contentamento de uma esposa ao ver o marido chegando à casa são e salvo. Apesar dos perigos.
– Eu fui demitido. – Ele respondeu amargamente.
– Você é um incompetente mesmo! Não consegue nem ao menos se manter na droga de um emprego.
– Não foi culpa minha, a fábrica faliu.
– E daí? Isso significa que nós estamos na miséria, vamos ter que nos juntar ao bando de indigentes numa fila por um prato de sopa?
– Eu não posso fazer mais nada, você quer que eu roube?
– Não seria uma má ideia. As mulheres dos mafiosos são sempre glamorosas com cobras percorrendo seus pescoços.
– Você não está falando sério, não é mesmo?
– Como nunca falei em toda a minha vida, seremos um casal do crime. A minha genialidade e a sua ação casam perfeitamente.
– Você só pode estar enlouquecendo.
– Não me chame de louca! – Falou em tom ameaçador. – Se você pensa que eu nasci para viver nessa miséria, saiba que estás muito enganado. Se prepare, que começaremos a planejar nossas ações a partir de agora.
– HAHAHA! Qual banco nós assaltaremos? – Questionou, sarcástico.
– Um banco não, mas uma loja sim. Vamos aproveitar enquanto ainda temos um carro e um teto.
1
A ideia de tornar-se uma ladra, para Angelina, era tão fascinante quanto ser a primeira dama dos EUA. Planos e mais planos surgiam a sua cabeça, ela precisaria agora assaltar toda a cidade de Nova York para executar a todos. A primeira loja a ser assaltada seria a Coffe Break, no centro da cidade. Era uma cafeteria aberta vinte e quatro horas por dia, que lotava suas mesas matinal e vespertinamente. A estratégia era executar um assalto à mão armada ás 3 da madrugada e fugir. Simples, nada poderia dar errado.
– Então é isso. – Lina finalizou após contar a estratégia para Fred. – É só você libertar o machão que há dentro de você e dizer duas palavras: “Passa a grana” apontando a arma para o caixa e pegar o dinheiro. Eu estarei te esperando no carro para voltarmos a nosso aconchego.
– Não sei, não, heim. – Pigarreou desconfiado. – É simples demais para dar certo.
– Meu querido, apenas engrosse a voz e aponte aquela arma – apontou para a gaveta – que aquela estúpida vai lhe dar todo o dinheiro.
– Está bem. – Concordou temerosamente.
A noite chegou sorrateiramente. Angelina sugeriu que os dois se deitassem mais cedo, para não estarem cansados na hora H. Mas ela bem sabia que nenhum dos dois conseguiria pregar os olhos. Durante muito tempo viveram o sonho dourado dos EUA, agora que foram acordados para a realidade, o caminho errado soava mais fácil do que superar a crise.
– Hora de irmos. – Ela sussurrou friamente, quando os pêndulos do relógio apontaram para 02h29min. Fred ouvira atentamente o que dissera, mesmo tendo sido apenas um sibilo baixo, pois assim como ela, ele não dormira.
– Tem certeza que quer mesmo fazer isso? – Ralhou – Nossas reservas de dinheiro dão para passar mais um mês…
– E as nossas dividas? Esqueceste! – Angelina se irritou. – Você não terminou de pagar essa casa, nem aquele maldito carro.
– Está bem, mas tomara que nós não nos arrependamos.
02h46min: Eles chegaram em frente da cafeteria. Como de esperado, ela estava vazia, havia apenas um rapazote sentado no caixa e com os olhos se fechando. Fred cruzou a porta e a campainha tocara, o rapaz despertara instantaneamente.
– O que deseja senhor? – Perguntou calmamente.
Frederico sentia seus batimentos cardíacos mais fortes. A arma no bolso interno da sua jaqueta parecia queimar seu peito. “É só você libertar o machão que há dentro de você e dizer duas palavras: ‘Passa a Grana’ apontando a arma para o caixa e pegar o dinheiro.” As palavras de sua esposa se repetiam na mente dele. Ela fazia tudo parecer tão fácil… Pensara em finalmente desistir, mas ele não poderia enfrentar a ira de Angelina. “Você é um incompetente mesmo!”, pensava numa segunda decepção. Não. Ele a amava demais para decepcioná-la.
– Passa a grana. – Surpreendentemente a sua voz saíra firme e perfeitamente segura. Em seguida sacara a arma de sua jaqueta e a mantivera apontada para o jovem e frágil garoto que logo comera a choramingar.
– Si-sim senhor. – Assentira e começara a tirar o dinheiro do caixa. Em seguida entregara tudo a Fred enquanto este saia.
Angelina esperava pelo marido no carro. Acompanhara todo o ocorrido observando pelas paredes envidraçadas e parecia que ele estava se saindo bem. Quando finalmente ele voltara com o dinheiro, ela sentira-se a rainha do crime. Lina apenas deu um sorriso malicioso e deu a partida no carro.
Quando já estavam próximos ao bairro em que moravam, um carro se aproximava. Era uma patrulha policial.
2
Fred teve um acesso de pânico. Angelina o encarou com mais desprezo do que o costumeiro. Ela realmente sentia nojo do homem com quem se casara.
– Eu te falei que não ia dar certo! – Choramingou.
– Pare de agir como uma mulherzinha. – Ela o repreendeu.
– Será que você não percebe, é o fim!
– Claro, que não. Vamos sair da cidade. Quanto você conseguiu naquele café?
– Cerca de 300 dólares.
– Ótimo. – Assentiu – Vamos passar alguns dias fora da cidade!
Frederico suspirou; Angelina acelerou o carro, fez alguns contornos, dobrou ruas, chegou à estrada e continuou indo em linha reta. Quando o sol ainda era uma fina linha emergindo no horizonte ela disse:
– Acho que despistamos os tiras.
– E agora?
– No primeiro motel que aparecer a gente para.
– Quando vamos voltar? Os vizinhos vão dar falta de nós.
– Daqui a uma semana nós voltamos. Enquanto isso, precisamos ficar quietos.
Após alguns minutos uma espelunca com um letreiro queimado mostrando o nome MOTEL apareceu e, mesmo não agradando a nenhum dos dois, eles pararam.
– Nós vamos passar uma semana aqui? – Fred perguntou incrédulo.
– Vai bancar a mulherzinha agora? – Angelina satirizou. – Eu que sou uma dama do crime não estou reclamando, por que você reclama?
– Por que eu não sou maluco. – Ele rebateu. – Eu só embarquei nessa por você, por que eu não aguento mais você reclamando de tudo.
– Não me venha com esse papo de maridinho apaixonado agora. Somos fugitivos da volante!
Eles entraram no estabelecimento, havia apenas um senhor maltrapido, com aparência horrível. Ao redor daquela “recepção” havia muitas cruzes, imagens de santos e símbolos do catolicismo.
– Bom dia, senhor? – Frederico se aproximou dele.
– Bom dia. O que deseja? Por acaso veio cobrar impostos?
– Na verdade, não. Eu minha esposa viemos alugar um quarto?
– Então são hospedes! – Exclamou irradiante. – Venha comigo, venha. Eu vou lhes mostrar seu quarto.
– Mas nós nem acertamos os…
– PSIU! – Angelina se manifestou, mandando-o permanecer calado.
O lugar era sinistro. Parecia que não havia sido limpo há semanas, mais parecia com um cenário dos filmes de Hollywood, isso causava calafrios no casal. O velho os conduziu pela escada velha e maltratada pelo tempo e os deixou em uma porta com o número 6.
– Vocês ficarão aqui. – Anunciou com um sorriso amarelo.
– Nós não vamos acertar os valores? – Indagou Fred.
– Não se preocupe, nós podemos ver isso no final.
– Ok. – Angelina pôs um fim.
– Boa estádia.
– Obrigado, eu acho. – Disse Frederico, sem jeito.
3
Um grito!
Logo após entrarem na pocilga imunda que o velho ofereceu como quarto, Fred e Angelina deram um jeito de ajeitar aquele lugar. Arrancando algumas teias de aranha e sacudindo a poeira da cama e dos móveis. Ao fim da pequena arrumação deram um jeito de sair para comer e, por já estarem exaustos de todos os acontecimentos – assalto, viagem, arrumação e almoço -, caíram de bruços na cama.
03h00min. Um grito! Fred despertou na hora, olhou para o relógio digital no pulso e viu que já eram três da madrugada, virou para o lado.
– Lina, você está bem?
– N… acho que… s… sim. – A voz dela estava embargada por um tom diferente, estranho, estava mais dócil, contudo havia uma nota fraquejante nas frases gaguejadas, como se estivesse perdendo as forças.
Mas Fred não se importou e voltou a dormir, minutos depois ouviu outro grito, mas desta vez ele era continuo. Angelina se retorcia na cama, as pálpebras dela se reviraram e seu corpo fazia flexões inacreditáveis. Frederico ficou desesperado e correu para a recepção.
– Por favor, senhor! Ajude-me. – Ele choramingou.
– O que houve? – O velho perguntou preocupado.
– É a minha mulher, ela tá tendo um ataque lá em cima, ela não para de gritar e seu corpo está se retorcendo. – Fred apressou-se a explicar e os dois subiram as escadas rapidamente, o senhor na frente de Fred.
O homem correu rapidamente, mas um dos degraus quebrou enquanto Fred subia. Seu corpo afundou no assoalho e ele gritou. O recepcionista voltou, mas ele foi irrevogável.
– Não se preocupe comigo! Vá ajudar minha mulher.
E o velho assim foi. Frederico se desesperou naquele lugar. As lascas de madeira perfuravam-lhe as vestes e arranhava seu corpo. Logo, logo sangue começaria a jorrar dos ferimentos e ele precisava fazer alguma coisa.
Então começou a impulsionar o corpo para cima, o material rachado parecia cortar sua pele à medida que subia, porém ele sabia que era cortar a pele ou ser esquartejado em uma escada e resolveu ficar com a primeira opção. Quando finalmente se desvencilhou, foi para o seu quarto rapidamente ver o que estava acontecendo. Ao chegar à soleira da porta se deparou com uma cena ultrajante: sua mulher se contorcendo no chão e o velho recepcionista lhe sussurrando palavras.
– Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha à nós o vosso reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal, amém! – Rezava – Em nome do senhor Jesus, parta desse corpo; Saia demônio; deixe esta pobre mulher.
– Pobre? – O corpo de Angelina começou a falar com um timbre estranhamente grave. – A alma dela é suja como esse lugar. O coração dela é murcho, esta mulher possui uma mente podre. Ela quer sofrer, ela gosta do mal que lhe causamos.
– Em nome do senhor, em nome do nosso senhor Jesus Cristo deixe este corpo e não volte jamais. Parta e nunca retorne. Demônio, filho de Satanás, parta: Eu Ordeno!
– Me estupre. – Uma voz fininha saia pela boca de Lina e seu corpo se levantou para atirar-se a cama. – Você é um velho tarado e gostoso, me estupre!
– Creio em Deus pai todo poderoso criador do céu e da Terra, que em Jesus Cristo, nosso senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado…
– Por favor, pare! Eu sou só uma vagabunda imunda. Não grite comigo não faça assim. – Ela agora imitava uma menininha inocente com a voz chorosa. – Me bate, me bate muito. Eu sou uma puta. Me bate. – Desta vez era uma voz totalmente alterada, o rosto se inclinando para dar uma volta de 180º.
– Em nome do senhor, em nome de Jesus. Parta demônio! – A voz do velho agora era totalmente autoaltiva.
E o corpo possesso caiu desfalecido na cama. O velho olhou para a porta e viu Fred totalmente aterrorizado.
– Ah, você está aí. – Percebeu. – Eu sinto muito que você tenha que ver isso, mas não é a primeira vez que isto acontece nesse lugar.
Fred não conseguiu dizer nada.
– Tem certeza que quer ficar aqui? – Ele perguntou para o homem parado a porta, ainda fitando o corpo jogado à cama.
– T-tenho. – Fred respondeu com lágrimas saltando aos olhos. – Ela é minha mulher, eu sei que no fundo Angelina está aí dentro e eu vou trazê-la de volta.
– Está bem. – O senhor concordou. – Mas assim que ela acordar me avise.
Frederico apenas assentiu com a cabeça, incapaz de dizer mais nada.
4
Fred passou o resto da noite fazendo cafunés na cabeça que pertencia a sua mulher. Tinha medo de quando ela acordar ainda haver um demônio lá dentro, mas também poderia ser um ataque esquizofrênico. Quando o sol já havia se levantado, os olhos dela se abriram a primeira coisa que disse foi:
– Feche as cortinas, por favor!
Então Frederico correu para deixar o ambiente totalmente escuro.
– Você está melhor, Lina? – Perguntou com a voz maleável.
– Lina? HAHAHA’ Eu não sou a Lina.
– Quem é você?
– Jamais revelarei meu nome, no entanto você sabe que sou a criatura que vai levar o espírito dessa mulher.
– Deixe a minha mulher em paz.
– Eu posso até partir, mas você terá que fazer um acordo comigo. O que acha?
– Eu farei! Qual é o acordo?
– Você vai ficar caladinho enquanto eu lhe conto algumas historinhas verídicas sobre sua mulherzinha, se ao fim, você a perdoar eu a deixo, mas se você não conseguir perdoá-la… Eu mato-a com uma vara no ânus.
– Eu sei que ela jamais faria nada de tão grave.
– Apenas escute.
Era uma vez, uma menina muito retirada, que vivia no aconchego da sua casa e não se relacionava com as outras crianças. Logo essa menina foi crescendo e se tornou uma adolescente problemática, se envolveu com o pior tipo de gente e acabou caindo na onda das drogas. Sua mãe descobriu e a expulsou de casa, mas ela continuou nas ruas a se drogar. Quando caiu na realidade e viu que não dava pra viver desolada nas ruas procurou um bordel e começou a se prostituir. Lá, teve menos contato com os narcóticos e depois de algum tempo percebeu que o melhor a se fazer seria arranjar um trouxa para se casar. Eis que surge Fred, um ingênuo. E esta mulher o engana, mesmo casada, mantém relacionamentos extraconjugais, é amante de um gangster e de um governador.
– Você terá a audácia de perdoá-la? Uma mulher com passado sujo, manchado com marcas indeléveis. – Questionou. – Uma mulher imunda que nunca o respeitou, nunca o deixou agir por si. Você a perdoará?
5
Aquela situação era extremamente complexa. Ter uma vida em suas mãos não é algo que não pese na consciência. Ainda mais quando uma enxurrada de novas informações é lhe confessada e você precisa pensar em algo antes mesmo de processar tudo aquilo que lhe foi contado. Mas Fred sempre teve sua resposta formada, não adiantaria lhe dizer nada.
– Eu a perdoo. – Respondeu em tom firme – Eu não a condeno pelos erros do passado. Deixe o corpo da minha mulher.
– NUNCA! – O espírito respondeu. – Seu viadinho. Você gosta de ser traído? De dormir como uma vagabunda dia após dia? Eu pensava que estaria a lhe prestar um favor, mas você é de uma cegueira que nunca vi na minha vida.
– Você nunca vai entender por que eu tomei essa decisão. Eu a amo demais para suportar a dor de vê-la morrer. Eu não me importo que ela me maltrate, me humilhe e me traía contanto que no fim de cada noite seja ao meu lado que ela durma. – Explicou cheio de sensacionalismo na voz. – Você nunca entenderá a natureza desse sentimento. Eu amo a mulher cujo corpo você insiste em possuir e não há nada que possa mudar isto.
– NÃO! NÃO! NÃO! – Ele gritava. – Você é que não entende. Esta alma não merece nada de bom que alguém possa lhe oferecer.
– Espírito invejoso, parta em nome de Jesus! – Frederico ordenou. – Jesus veio ao mundo para propagar a paz e o amor, e onde há amor não haverá intrigas. Deixe este mundo!
– NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO…
Aquele grito foi o mais estridente. As janelas de vidro se quebraram com a pressão do espírito deixando o corpo. E Angelina caiu desfalecida.
FIM
NOTA DO AUTOR: ‘Perigo Interno’ foi um conto sob encomenda que me levou à duas noites de julho em claro e litros de lágrimas, sem exagero. Eu não acredito em possessão, por mais que tenha formação católica, há cláusulas da doutrina da igreja que me recuso a acreditar, como a violação do nosso livre-arbítrio por um espírito. E é por essa minha descrença que considero ‘Perigo Interno’ um dos meus maiores desafios – e olhe que eu já escrevi um romance erótico! Enfim, só espero que tenham apreciado essa minha mistura de história, romance, terror e drama. E não deixe de conferir mair um conto do Jhonnatan Carneiro na próxima semana!!!
Frederico e Angelina estão casados a um bom tempo, mas essa relação nunca deu certo para nenhum dos dois.
“Você é um incompetente mesmo! Não consegue nem ao menos se manter na droga de um emprego.”
Em 1930, eles eram apenas mais um casal afetado pela Grande Depressão e são obrigados a se tornar ladrões para sobreviver.
“Seremos um casal do crime!”
A vida do crime vai servir para estabelecer uma cumplicidade entre os dois, mas o demônio cerca aqueles que pecam e Angelina, com todos os seus erros do passado, pagará.
“A alma dela é suja como esse lugar. O coração dela é murcho, esta mulher possui uma mente podre. “
A vida dela estará nas mãos de Fred, porém o perigo interno não vai facilitar para ela!
“Uma mulher imunda que nunca o respeitou, nunca o deixou agir por si. Você a perdoará?”