As Nordestinas | A Ressentida de Teresina (part. 2)

Na primeira parte de A Ressentida de Teresina

  • Natália, nossa heroína, está interessada em seu patrão, Alexandre, e vive a suspirar por ele.

Natália – Por que meu chefe é o cabra mais macho do Piauí.

Alexandre – Morena, não me provoca.

E naquela brincadeirinha de fazer tico-tico no fubaco escondida do “chefe” os dois foram para o quarto brincar mais um pouquinho. Mas estava na hora de Natália acordar e ver que o seu chefe não a quereria nem em conto de fadas.

  • Alexandre pede para Natália preparar um jantar em homenagem a noiva dele.

Natália – Está bem seu Alexandre, eu vou fazer o seu jantar.

Alexandre saiu e Natália sentiu um fogo perpassar seu corpo e temia que aquele fogo queimasse a casa inteira de vez.

Natália – Pode deixar seu Alexandre, eu vou arruinar o seu jantar!

A imagem das atrizes acima não estão relacionadas com a obra.

A lua piauiense caiu e Natália se preparava para fazer a pior coisa da sua vida. Observando o jantar de longe, tudo estava lindo. Quem visse aquele banquete de longe não haveria de imaginar um estrago, uma verdadeira bomba. A campainha tocou, Natália correu para atender, mas foi repreendida.

Alexandre – Deixe-me atender. [E correu até a porta] Lorena, meu amor, bem vinda.

Lorena – Brigada amorzinho.

Natt então voltou à cozinha brincando com as palavras de Lorena. “Brigada amorzinho” ela repetia silenciosamente.

 

O casal conversou um pouco até que o estomago roncou e resolveu mandar servir o jantar.

Lorena – Ei, coisinha.

Natália – Sim…?

Lorena – Eu quero minha salada com muito azeite, por que tem gorduras boas.

Natália – Sim senhora. E o Sr, seu Alexandre, alguma preferência?

Alexandre – Não.

Na cozinha, Natália encheu a salada da oxigenada de pimenta dedo de moça, aquela que quando pega na língua incendeia a boca toda. E, claro, um leve toque de azeite. Minutos depois, levou as saladas para a mesa. Colocou um prato no lugar de cada um e em seguida serviu o vinho.

Alexandre – Pode voltar à cozinha.

E Natália voltou para a copa. Esperando os apelos desesperadores de Lorena.

Lorena – Hum… estes tomates estão com uma cara ótima.

Alexandre – Eu mesmo mandei comprá-los esta manhã.

Lorena – Tomates frescos são uma delicia. E você tem que comer bastante para evitar um câncer de próstata.

Alexandre – Você sempre cuidando de mim, não é?

Lorena – Sim, meu amorzinho. [E ela colocou um pouco da salada na boca]

Alexandre – O que houve, meu amor? Você fez uma cara estranha.

Lorena – Água. [Ela estava tremendo]

Alexandre – Natália, traz água.

Nossa heroína veio correndo uma jarra cheia de água nas mãos. Apressada para encher a outra taça de Lorena derrubou propositalmente o cálice de vinho no vestido paitê cinza de Lorena.

Lorena – Sua vagabunda, esse vestido custou mais que o barraco no qual você vive.

Natália – Quem é vagabunda aqui, sua lora oxigenada?

Natt então pulou em cima de Lorena, quase arrancando os cabelos da outra. Até que Lorena deu um tapa na cara dela.

Natália – Agora a porra ficou séria. [E deu dois tapas consecutivos na loira um com cada face da mão]

Natália provara do desemprego por dias e mais dias. Contudo jamais se deixara abalar e mesmo não tendo arranjado outro emprego, pode-se dizer que ela arranjara coisa melhor. Por outro lado, Alexandre continuara com Lorena, que ainda não superara o trauma de ter perdido um tufo de cabelo, mas provara da dificuldade de arranjar uma boa empregada. O máximo que conseguira fora uma diarista, porém sua casa passava a impressão de ter ficado no meio de um furacão. Mesmo contra a vontade de sua futura esposa, só havia um jeito de consertar aquilo tudo: pedindo para a Natália voltar.

No bairro humilde em que Natália morava, Alexandre deixou seu carro numa pracinha e foi atrás da casa da moça. Ele não sabia qual era exatamente a residência, mas tinha uma vaga noção. Enquanto analisava as casas por uma ruela avistou um mulata vindo ao longe, com madeixas ao vento e vestido florido. Ela tinha um sorriso emoldurado com dentes brancos. Sem aquele uniforme de empregada, ele a via com outros olhos.

Natália – Seu Alexandre? Veio fazer o que aqui?

Alexandre – Eu vim te implorar para voltar, sem você aquela casa é um inferno.

Natália – Sinto muito, mas eu não me sentiria bem em voltar para lá e servir aquela lora.

Alexandre – Por favor, eu faço o que você quiser. Aumento o salário, pago a condução, o plano de saúde, qualquer coisa.

Natália – Não, por que também tem outro motivo.

Alexandre – Qual?

Raí – Natt, quem é esse branquelo aí?

Natália – Ele. [E ela foi dar um abraço e um selinho do morenão alto e forte que surgira.] Nós vamos casar e eu vou ficar cuidando de casa e dos nossos filhos.

Alexandre – Ah, então felicidade para os dois.

E ele saiu de cabeça baixa deixando a nossa heroína com peninha. Mas fazer o quê né? Já disse um grande profeta da vida: “A fila anda!”, mesmo Alexandre nunca tendo entrado na fila, ele perdeu a vez.

 

 NOTA DO AUTOR*: É isso aí leitor, a gente fica por aqui e espero que, mais do que ter gostado do desfecho do episódio, você tenha também aprendido a lição que nossa belíssima heroína, Natália Leite, quis vos passar. Me despido de vocês com a chamada da nossa próxima heroína, bela fera, A IMPOSTORA DE POÇO REDONDO.

 

As Nordestinas | A Ressentida de Teresina

Brasil, Piauí, Rainha do Nordeste: TE-RE-SI-NA! Com seus 33º graus característicos, essa rainha já chegou a registrar 40,8º, com essa temperatura daria para fritar um ovo na testa de nêgo. A cidade que começou as margens do Rio Poti abriga seus 822.363 habitantes bem distribuídos em 1.392.000 km² de área é a terceira capital mais segura do Brasil. Terra de Torquato Neto e Carlos Castelo Branco, ela  tem o melhor sistema de saúde do Nordeste, mas houve um grande aumento no número de infartos por aceleramento cardíaco depois que conheceram a nossa heroína de hoje: A Ressentida de Teresina.

O sol do trabalhador piauiense nasce bem antes do sol dos outros nascerem, e é assim com Natália. Ela acorda bem antes da maioria das pessoas por que mora muito distante do emprego, o casarão de Alexandre Freitas. Natt além de acordar cedo, fazer o café da manhã em sua casa, pegar três ônibus e ir correndo preparar o desjejum do patrão, ainda guarda um tempinho na manhã para as cantadas de Xande.

Alexandre – Bom dia! [Ele foi chegando perto dela por trás e a encochando]

Natália – Bom dia, seu Alexandre.

Alexandre – Hum… [Roçou os lábios no pescoço da mulata] Você está séria hoje.

Natália – Muito trabalho.

Alexandre – E o que você acha de a gente espairecer um pouco. [Natália já sentia uma leve cutucada]

Natália – Não sei, não…

Alexandre – Acha que seu patrão vai brigar?

Natália – Isso com certeza, ele é muito exigente. Não gosta que ninguém faça nada errado.

Alexandre – Então vamos fazer coisa errada na cama dele?

Natália – Só se tu estiveres maluco.

Alexandre – Por quê?

Natália – Por que meu chefe é o cabra mais macho do Piauí.

Alexandre – Morena, não me provoca.

E naquela brincadeirinha de fazer tico-tico no fubaco escondida do “chefe” os dois foram para o quarto brincar mais um pouquinho. Mas estava na hora de Natália acordar e ver que o seu chefe não a quereria nem em conto de fadas.

Dias e dias se passavam e Natália acordava cedo, tomava um café preto com pão e corria para preparar do banquete do chefe. Quando ela estava na cozinha era o momento em que mais se esforçava, pois já dizia sua avó Nastácia: “Um homem se conquista pelo estomago”, mas por diversas vezes se pegou sonhando com o dia em que Xande assumiria o relacionamento deles… o passatempo preferido dela era alimentar suas ilusões.

Natália – Ele tá é demorando hoje. [Pensou alto quando olhou para o relógio] É melhor eu chamá-lo antes que ele se atrase para o trabalho.

E largou o pano de prato na pia, subindo as escadas diretamente para a suíte máster. Na soleira da porta deu algumas batidas e como não houve repreensão vinda de dentro entrou calmamente.

Alexandre – Natália?

Natália desfez o sorriso com que entrou no quarto no momento em que seu cérebro pôde processar a cena. Havia uma cama… um homem, seu Alexandre, nu… uma loira de farmácia e um quarto de cabeça para baixo. Ela ia desmaiar.

Natália – Desculpe seu Alexandre… [E saiu em disparada para a cozinha].

Na área de serviço ela lutava para reprimir suas lágrimas, mas elas lhe escapavam sem nenhum comando cerebral. Pouco tempo depois, Alexandre apareceu por lá.

Alexandre – Natália, eu preciso que você vá nos servir… [Disse assim que chegou, mas interrompeu-se quando viu a face chorosa da empregada] Você tá chorando?

Natália – Não, é que caiu um cisco nos meus dois olhos. [Explicou limpando a região úmida]

Alexandre – Essa conversa não cola comigo, me diz logo o que é.

Natália – Você, quer dizer… o senhor!

Alexandre – Eu não fiz nada. Eu sou um excelente patrão.

Natália – É mesmo, o MELHOR patrão do mundo, sabe. Eu to chorando de felicidade por trabalhar numa casa tão boa.

Alexandre – Sim… voltando ao que eu queria. Eu preciso que você faça um jantar para mim e a minha noiva, Lorena, esta noite.

Natália – Vocês vão casar?

Alexandre – Daqui a seis meses. E você deveria arranjar um pretendente também, antes que fique caída e ninguém mais a queira.

Natália – Está bem seu Alexandre, eu vou fazer o seu jantar.

Alexandre saiu e Natália sentiu um fogo perpassar seu corpo e temia que aquele fogo queimasse a casa inteira de vez.

Natália – Pode deixar seu Alexandre, eu vou arruinar o seu jantar!

 

Assim que todo o serviço de limpeza da casa ficou pronto, nossa flor morena começou a preparar o jantar imediatamente. Natália picava as cebolas tão rápida e raivosamente que um olhar de fúria se emoldurou no brilho dos seus olhos castanhos. Vai ver que era por que ela imaginava a cabeça da Lorena no lugar da cebola. O mesmo aconteceu com a massa, ela só faltou queimá-la numa fogueira e afogar na piscina depois de esmurrá-la raivosamente. A essa altura do campeonato a loira oxigenada já devia estar em coma na UTI. Ou a sete palmos da terra.

Perto da hora do jantar, Natália deixou o frango no forno e correu para tomar uma ducha rápida e ficar linda e cheirosa na hora do jantar a dois dos pombinhos.

Natália – Seu Alexandre, você nem imagina o quanto este jantar será marcante. [A musa falou sozinha enquanto voltava para a cozinha]

Alexandre – Falaste comigo, Natália?

Natália – Seu Alexandre? O senhor estava aí?

Alexandre – Não acabei de chegar, mas te vi falando só…

Natália – NÃO! Eu não estava falando com o senhor, era só uma poesia de Dorgival Dantas.

Alexandre – Eu pensava que ele era cantor.

Natália – É poeta também. Mas agora saia que eu vou terminar esse jantar.

Alexandre – Eu vou terminar de me arrumar e quando voltar quero tudo impecável.

Natália – Sim senhor.

Continua…

Nota do Autor*: Apresentei-lhes finalmente A Ressentida do Piauí, espero que tenham gostado dessa heroína iludida e vilã apaixonada. A pergunta que paira é: no que este jantar vai dar? A resposta só será dada amanhã às22h30 no Club +TV!